O imbróglio envolvendo o juiz federal Eduardo Appio, de Curitiba, o desembargador Marcelo Malucelli, do Rio Grande do Sul, e o advogado Rodrigo Tacla Duran teve início antes do afastamento de Appio, determinado pelo TRF-4 na segunda-feira (22).
Em 24 de abril deste ano, quase um mês antes do afastamento, Eduardo Appio enviou um ofício ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e denunciou o desembargador Malucelli, do TRF-4, por abuso de autoridade.
Em 12 de abril, após a determinação de Lewandowski, o desembargador do TRF-4 restabeleceu a prisão preventiva de Duran, que havia sido revogada pelo juiz Eduardo Appio.
O restabelecimento da prisão foi um dia antes de Duran embarcar da Espanha para o Brasil, onde prestaria depoimento na Justiça Federal sobre a Lava Jato.
No documento enviado por Appio ao CNJ, ele acusa o desembargador Malucelli de abuso de autoridade por suposto descumprimento da decisão do STF.
“Não temos a menor dúvida de que a referida decisão do desembargador federal Malucelli visava, dentre outras coisas, restituir a prisão da testemunha protegida, tanto é verdade que determinamos a expedição urgente de ofício judicial aquele relator mencionando que o fato significaria potencial crime de ABUSO DE AUTORIDADE”, escreve.
“Esta repristinação do desnecessário decreto prisional foi, por simples dedução, a base para suposta urgência na medida que foi deferida em tempo recorde, sem informações do juízo corrigido ou mesmo simples intimação de Rodrigo Tacla Duran”, adiciona.
O magistrado também explica no documento que o advogado Tacla Duran estava no programa de proteção à testemunha do governo federal, à época.
A CNN apurou que esse ofício enviado ao CNJ um mês atrás não foi respondido à Justiça Federal do Paraná.
Esse documento, por sinal, é usado pelo juiz Appio, bem como outros, no recurso ao CNJ para tentar reverter seu afastamento, segundo apurado pela reportagem. A defesa do juiz também pediu, nesta sexta-feira (26), uma auditoria na 13ª Vara Federal, em Curitiba.
A CNN procurou o TRF-4 e o desembargador Malucelli sobre a acusação de Appio. Em nota, o tribunal disse que “sobre tal fato, tudo já foi esclarecido à época. O TRF4 não emitirá notas sobre isso.”
Já o CNJ não informou se uma investigação contra o desembargador foi aberta e disse, em nota, não ter nenhuma informação sobre o caso.
O TRF-4 determinou, na noite de segunda-feira (22), o afastamento do juiz Eduardo Appio da 13ª Vara Federal em Curitiba. Ele era responsável pela Operação Lava Jato no estado do Paraná.
A suspeita é de que ele teria ameaçado o filho do desembargador federal Marcelo Malucelli por meio de um número restrito. Na ligação, ele teria se identificado como um funcionário da Justiça Federal se referindo a dados sigilosos referentes a imposto de renda e despesas médicas.
O relatório da decisão, obtido pelo analista da CNN Caio Junqueira, diz que, em tese, o juiz pode ter cometido as seguintes infrações:
O documento detalha o passo a passo da investigação e diz que “o desembargador federal Marcelo Malucelli noticiou que em 13/04/2023 seu filho, João Eduardo Barreto Malucelli, havia recebido ligação telefônica que entendia capaz de “evidenciar ameaças” a ele direcionadas” e que “também encaminhou documentos relacionados à ligação telefônica, inclusive gravação desta e atas notariais a certificar o contexto dos fatos”.
“Naquele momento, a ligação telefônica pareceu suspeita, uma vez que:
O relatório afirma que “pôde-se perceber existir muita semelhança entre a voz do interlocutor da ligação telefônica suspeita e a do juiz federal Eduardo Fernando Appio, tendo então a Presidência do TRF4 e a Corregedoria Regional noticiado esses fatos à Polícia Federal e solicitado realização de perícia para comparação do interlocutor da ligação suspeita com aquele magistrado federal”.
O TRF-4 tem sede em Porto Alegre e jurisdição nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com Turmas Regionais descentralizadas em Florianópolis e Curitiba.